A História de Pandora
Há muito tempo atrás, o homem vivia na ignorância, sem a consciência do bem e do mal.
Depois, houve alguém, Pandora, que abriu pela primeira vez a caixa do conhecimento.
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Com o conhecimento, surgiu a possibilidade da escolha. Ao contrário dos outros animais, o homem deixou de estar limitado pelos seus instintos. Uma fera não pode ser censurada por matar, porque isso está na sua natureza. Uma fera não tem possibilidade de escolha, mas o homem sim.
Por isso, com o livre arbítrio, que nos torna humanos, surgiu também algo de terrível, tão terrível que só podia ser castigo!
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Com o livre arbítrio surgiu a dor da responsabilidade!
Que bom seria podermos agir sem o conhecimento das consequências, sem o peso do remorso! Uma fera, depois de cometer as piores atrocidades durante o dia, dorme descansada durante a noite. Mas os humanos não.
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A sua consciência atormenta-os! O peso dos seus actos esmaga-os.
Foi então que um grupo de sábios teve uma ideia para solucionar este problema e resolveram prontamente pô-la em prática. Em breve, tudo estaria resolvido!
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A ideia era engenhosa, e os argumentos que a apoiavam bem fundamentados. Não havia direito de o homem ter sobre os seus ombros um castigo tão terrível!
A Pandora era a culpada de toda esta situação.
Se ela não tivesse aberto a caixa, ainda estaríamos todos no paraíso feliz da nossa ignorância.
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Porque haveria toda a humanidade de sofrer devido à curiosidade desmedida de apenas um elemento?
Então, esses sábios imploraram aos Deuses que tudo fosse como antigamente. Imploraram a sério, de joelhos, desesperados, arrancando os próprios cabelos!
Enviaram os seus argumentos para os céus na mais crente das preces e esperaram o amanhecer de uma nova alvorada para a humanidade.
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Esperaram e esperaram, mas nada aconteceu.
Desmoralizados, alguns dos sábios concluíram que isto significava que o homem devia resignar-se a continuar a sua difícil e tortuosa viagem na estrada do conhecimento.
No entanto, outros deles tinham uma ideia diferente.
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A ausência de resposta do céu azul, que teimava em continuar a observá-los de forma indiferente e impassível, era na realidade um incentivo a que os homens tomassem a resolução do problema nas suas próprias mãos.
E foi isso mesmo que eles fizeram, nem que para isso tivessem de recorrer à crueldade para a concretização deste desígnio maior. Para isso, precisavam de uma ajuda preciosa.
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Os sábios começaram por aliciar os reis, os imperadores e todos os outros líderes que se escondiam nos palácios, recostados em coxins de seda mas sem um único minuto de paz de espírito, pois a cada momento receavam que o poder lhes fugisse por entre os dedos e que os seus privilégios desaparecessem.
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Os sábios sussurraram ao ouvido dos reis que o conhecimento era uma ameaça ao seu estatuto. Se mantivessem o povo no escuro da ignorância, então ai sim, poderiam alcançar a paz tão desejada e dormir descansados.
Os reis tiraram as coroas da cabeça, coçaram as nucas e pensaram e pensaram.
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Muitos dos reis cederam à voz melodiosa dos sábios e às promessas que estes lhes fizeram e puseram-lhes à disposição os homens, as leis, o dinheiro, as instalações, enfim, todos os meios que os sábios necessitavam para cumprir o seu plano.
E os sábios, zelosamente, não tardaram a mostrar trabalho.
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Queimaram-se livros, privaram-se as crianças da escola, censuraram-se as novas ideias, perseguiram-se aqueles que procuravam ir um pouco mais além, sendo muitos deles até torturados e mortos.
Após muitos esforços, a batalha estava ganha e a humanidade encolheu-se na escuridão das suas atrocidades e da sua crueldade.
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No entanto, embora o perigo de morte, existia quem persistisse em provar o sabor agridoce do conhecimento.
E apesar das ameaças, das chamas e dos castigos nada os demoveu.
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A caixa de Pandora foi novamente aberta, o conhecimento recuperado e descobriu-se então que ainda existiam muitas mais caixas por abrir, com deliciosos puzzles e enigmas.
Só que, a luta ainda não tinha terminado.
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Hoje, o duelo continua.
Enquanto parte da humanidade corre pela estrada do conhecimento sujeitando-se aos tropeções e à dor do caminho outros ficam para atrás, desconfiados, no conforto daquilo que já conhecem.
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Quanto à Pandora, ela continua a sorrir a todos aqueles que se aventuram no desconhecido. O seu sorriso permanece tão cativante como no início.
FIM